Há de ser sempre Pipa .

Talvez fosse pipa.

Daquelas que conseguem ir o mais alto que pode.

Mas ela não queria ser pipa, às vezes não conseguia se guiar sozinha - e ela precisava se guiar.

Ali ela era mantida por um fio que vez ou outra a entrelaçava e a impedia de voar - e ela não gostava daquilo.

Com o vento sobre o corpo, naquela tarde de sol, calma ela sonhava com o que queria ser e em como faria para ser como sonhava.

Em meio aos sonhos, ela via como era bom ser pipa às vezes.

Do alto, ela sempre via dois lindos olhos brilhantes fixados a ela com um só pensamento: o de fazê-la mais bela. O dono dos mesmos olhos possuía as mãos mais delicadas que já havia sentido, mãos que a tocavam com todo cuidado que sua fragilidade pedia, para não machucá-la. E o mesmo a dava a medida certa de uma liberdade, sempre a olhando, com o mesmo encanto, com o mesmo cuidado e sempre lhe dando uma certeza: de que se ela um dia caísse ele estaria ali embaixo para segurá-la e logo fazê-la voar de novo.

Como outras vezes, logo ela se viu encostada num canto, esperando aquele que se dizia seu dono vir e reacender o que tanto a iluminava.

E ali ela se via dividida: continuar a ser quem era ou abrir mão das coisas boas que sentia e tentar voar sozinha ?

Foi quando ele a pegou novamente, com o mesmo cuidado. E ela não quis responder suas perguntas, apenas se desentrelaçar dos fios, se envolver naquelas mãos e no brilho daquele olhar.

Foi aí que ela percebeu, que ela não precisava buscar algo que queria ser, pois ela já era.

Ela era algo que despertava alegria, brilho no olhar, zelo e sentimentos bons dentro de alguém.

E talvez não, ela realmente era pipa - e gostava de ser.